Um acordo inédito na
história da indústria brasileira, assinado na sexta-feira (09), entre o
Sindicato dos Metalúrgicos de Betim e a Fiat Automóveis permitirá que 2,6 mil
trabalhadores terceirizados sejam incorporados ao quadro funcional da
montadora. Contratados das empresas Ceva Logistics e Syncreon, estes
trabalhadores prestam serviços de logística interna na planta da Fiat.
Com o acordo, além de passarem a contar com todos os benefícios disponíveis aos
diretamente contratados, como Participação nos Lucros ou Resultados (PLR),
estes trabalhadores terão seus salários reajustados em cerca de R$ 350,00,
conforme estimativa do Sindicato. “Trata-se, portanto, de um ganho importante
não apenas para estes trabalhadores e suas famílias, como para a própria
economia local”, afirma João Alves de Almeida, presidente do Sindicato.
O processo de transferência será concluído em 1º de junho. Segundo a Fiat,
todos os atuais terceirizados serão convidados a se transferir e os que
quiserem terão o emprego garantido. Ainda de acordo com a montadora, com a
“desterceirização”, ela passará a ter 18.700 empregados diretos.
As atividades de logística haviam sido terceirizadas em 1997, ano em que a
empresa holandesa TNT Logistics assumiu o serviço.
A terceirização da logística interna na Fiat trouxe inúmeros prejuízos aos
empregados nesta atividade ao longo dos últimos 15 anos. Além de os reajustes
aplicados aos salários destes trabalhadores não terem acompanhado os
percentuais negociados pelo Sindicato com a montadora, os terceirizados também
perderam o direito de receber PLR, além de outros benefícios.
Com o passar do tempo, o grau de insatisfação chegou ao ponto de, há
aproximadamente 15 dias, cerca de 400 trabalhadores dos atuais dois mil
contratados da Ceva terem cruzado os braços em protesto contra as más condições
de trabalho. A paralisação, que durou dois dias, obrigou a Fiat a recorrer a
trabalhadores que cumprem outras funções na fábrica para suprir a lacuna, a fim
de não ver interrompido o funcionamento de suas linhas de montagem de
automóveis e comerciais leves.
Em fevereiro, a unidade da Volkswagen instalada em São Carlos (SP) foi
condenada a pagar R$ 1 milhão em indenização por danos morais por ter
terceirizado o abastecimento de suas linhas de montagem de motores. A SG
Logística, por sua vez, que emprega 209 trabalhadores na função, também foi
condenada a pagar R$ 100 mil e a não fornecer mão de obra para a montadora. As
indenizações serão destinadas a instituições beneficentes.
O processo teve início depois que o Ministério Público do Trabalho (MPT)
recebeu denúncias de más condições de trabalho dos terceirizados. A decisão
tomada em primeira instância estabeleceu prazo de 60 dias para que o contrato
de terceirização seja encerrado. Do contrário, tanto a Volks quanto a SG
estarão sujeitas a multa diária de R$ 5 mil.
Pesquisa realizada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
Socioeconômicos (Dieese) apontou que 800 mil novas vagas de trabalho deixaram
de ser criadas no país em 2010 por conta da terceirização. Em média, o salário
dos terceirizados era 27,1% menor do que o dos contratados diretos. A
rotatividade era maior – 2,6 anos entre terceirizados e 5,8 anos entre não
terceirizados – e, a cada dez acidentes de trabalho, oito ocorreram em empresas
terceirizadas.
Fonte: Alexandre Magalhães - Sindmetal Betim
Marcos Lima
Nenhum comentário:
Postar um comentário